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domingo, 16 de novembro de 2014

A ordem não é absoluta

estão nas favelas e nas ruas, são os desempregados crônicos, aqueles que foram expulsos da
esfera do trabalho por estarem “desatualizados”, ou que não têm mais para onde ir, pois não
podem mais seguir o fluxo de imigração para países que exploração de mão de obra estrangeira.
São os mendigos, os loucos, os pobres, os drogados, aqueles que fogem do padrão da
sexualidade, são todos os que estão fora da construção da ordem, são os que realizam
o contrário, que desfazem a ordem, que dão indícios de que ela pode ser quebrada ou de
que ela não é absoluta.

há uma nova forma de exclusão, a forma que advém particularmente da globalização: a
exclusão do não-consumidor. Aquele que não consome já não é parte do esforço de
construção da ordem, já que a ordem tem lugar cativo para os grandes consumidores,
para os gastadores compulsivos e para aqueles que querer “exercer sua liberdade” por
meio do consumo de serviços e produtos que demonstrem suas escolhas em todas as esferas
da vida. Os que não consomem não podem ficar no espaço social.

O não-consumidor é o novo estranho, o ambivalente, aquele que não pode ser localizado em
nosso mapa cognitivo, que, na verdade, atrapalha seu funcionamento, que mostra suas condições
errantes, sua incapacidade de abarcar o todo. Esses estranhos são absorvidos e
“domesticados”, ou completamente eliminados. O novo racismo não é o da caça e da morte
do estranho, mas é o da separação e da “culturalização” da essência.

Agora não se trata de uma essência biológica, mas de uma essência cultural.
Os novos racistas imputam uma cultura fixa a cada grupo específico e promovem a
separação total destas, as hierarquizam de maneira que o branco “tem a cultura superior”.

a tática de absorver e domesticar não é menos autoritária que a prática dos regimes
totalitários de morte e exclusão. Para ele, a destruição daquilo que é a identidade do
sujeito é um movimento autoritário e forçoso de eliminação do sujeito. Como não se pode
mais matar, então é necessário ter ambientes certos para a absorvê-lo e reeducá-lo, como
a escola, a igreja, ou as prisões e as favelas. É necessário normatizar o estranho.

Em nossa época, o medo se espalha como uma malha infinita. Os meios de comunicação tem
um papel privilegiado, pois transmitem os objetos do medo de forma mais rápida e brusca
que o próprio objeto poderia se transmitir, vide a Al-Qaeda após o 11 de setembro.
É na televisão onde os programas telejornalísticos banalizam os medos e, ao mesmo tempo,
fazem vibrar o alarme da “violência local” e da “violência global”.

uma das formas de exercer o poder eficientemente é controlando as incertezas.
O grupo que controla as incertezas, que detém o controle da decisão e que, por sua vez,
prevê todos os movimento sem ser previsto por nenhum outro grupo, este grupo consegue,
também, decidir em quais momentos a sociedade deve ter medo (como nos Estados de Sítio
eternos) e quando deve ficar calma e pacífica, como nas tentativas neoliberais de acalmar
a tensão entre os miseráveis garantindo que poderão ascender na hierarquia social, desde
que trabalhem o bastante para isso.

segurança é aquilo que constitui o sujeito, a segurança (e a insegurança) são inscritas no
sujeito em toda sua socialização. É algo que forma o sujeito. Isso significa que a segurança
tem a ver com algo que nós não escolhemos, mas que é a base para nós escolhermos outras
coisas. Somos inseguros quando checamos o celular de nossos parceiros para saber se estão
nos traindo. Já a proteção tem a ver com aquilo que você compra ou acumula para guardar a
integridade física. Proteção são câmaras, coletes à prova de balas, bunkers e etc e etc.

A futilidade, o consumismo e a incerteza são constitutivos e devem ser combatidos sabendo
que eles fazem parte de nós...

Zygmunt Bauman


Ela é o que faz o sangue ferver... gritando a flor da pele!