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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

" COM AMOR É MAIS CARO


Simples assim. Como uma vítima de abuso, uma prostituta voluntária (de mau-grado), tanto fazia. Augusta somente recebia as ordens e as obedecia passivamente. Se permitia ser tocada em cada zona proibida do seu corpo; a sensação era boa, pelo menos. Augusta ofegava, gritava, gemia, reagia a cada carícia e a cada violência com uma exaustão satisfatória. E ria, sussurrava, se contorcia, mordia forte os lábios, sendo agradável aos sentidos mais perversos. Claro que protegia, porém, as partes mais íntimas: que nunca se aproximassem do seu coração, pelo amor de Deus; que ela tinha uma pele forte, uma carne firme, mas seu coração não. A casca endurecida dele era finíssima, como uma folha de papel, e resistente apenas na aparência. Augusta sangrava facilmente. Augusta tinha uma alma em frangalhos e uma mente corrompida. Que a tocassem, então; que a usassem como costumavam fazer. Ela gostava. Não que esse gostar queira dizer que não doía, que ela não chorava. Doía. Augusta chorava.
Era a obrigação dela se divertir. Era a escrava da alegria e do bom-ânimo, que sorria para os garotos e garotas bonitas nos corredores escuros e os induzia a lhe pagar uma ou duas doses, acender seu cigarro. Augusta se recostava à parede, umedecia os lábios entre uma tragada e outra; ou sentava-se ao chão, a garrafa de cerveja entre as pernas de índio. Nunca era a mais bonita da festa, disso ela sabia, mas ela estava ali. Podia iludir-se com a sensação de ser boa, de ser desejada por alguns segundos, mesmo que em segundo plano. Fechava os olhos enquanto beijava um imbecil ou outro e fingia que aquele era um rapaz adorável, que ela o queria, que ele a adorava, que eles sairiam dali com as mãos dadas e talvez ele até enviasse uma mensagem na manhã seguinte. Augusta era uma sonhadora boba, dolorida e substituta. 
Se deixava levar para algum canto mais escuro, era consumida pelas sombras, por um desejo efêmero, um prazer imediato, sabendo que diriam horrores sobre ela. Mas Augusta também pensava horrores sobre ela mesma, e era isso que ninguém sabia. E era isso que doía tanto. 
Mas tudo bem, ela era uma menina (uma menina, não uma mulher, mesmo que ninguém percebesse) bem prevenida. Levava sempre na bolsa: um maço de cigarros, o bilhete do ônibus, camisinha, algum dinheiro, as chaves e uma máscara de falso amor-próprio. "