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sábado, 1 de agosto de 2015

O SURGIMENTO DO OI!: MAIS UMA HISTÓRIA MAL CONTADA

A  mesma  prática  de  revisionismo  tem  sido utilizada  quando  o  assunto  é  o  surgimento do  Oi!  no  início  dos  anos  80.  É  comum  encontrar em textos na internet a história de que  no  final  dos  anos  70  o  punk  foi
ganhando uma cara cada vez mais vendável  e  uma  parte  do  movimento  seguiu  para  um lado  mais  comercial,  dando  origem  ao  póspunk,  new  wave,  etc.  Em  contraposição  a isso  teriam  surgido  punks  mais  “crus”  e
agressivos, rueiros e suburbanos, que teriam dado origem ao Oi!/Street Punk.  A conclusão desta história que é comumente contada é a de  que  a  verdadeira  expressão  punk  não comercial da época seria o Oi! e a cena que
se formou em torno dele, com forte presença  de skinheads.  Mais uma vez uma história de
mão única.
De fato os skinheads, que até o momento se encontravam em um período de decadência,  apoiaram-se  na  explosão  do  punk  para ressurgirem novamente, porém colocando-se como  continuadores  do  punk  “das  ruas”, através  do  Oi!,  em  uma  história  que  com  o advento da internet se tornou cada vez mais popular.
Quando  o  punk  passa  a  ser  apropriado  e cooptado  pela  mídia,  indústria  musical  e  da moda,  parte  da movimentação  punk  vai adentrando  um  caminho  de  produção  marginal  e  fora  das  grandes  gravadoras  e
imprensa musical, e se tornam escassas as informações  a  respeito  nestes  grandes  meios  para  aquel@s  que  não  estão próxim@s  destas  movimentações.  Muito longe de acabarem, seguiram cada vez mais para  as  propostas  de  faça-você-mesm@  e lutas libertárias. Assim, se por um lado havia street  punks  junto  a  skinheads  no  Oi!,  por outro havia uma crescente cena Peace-punk que criava suas próprias publicações, zines, gravadoras/selos  e produções  diversas,  se envolvendo em manifestações e movimentos sociais de forma cada vez mais politizada e libertária. De peace-punks surgiram diversos questionamentos  quanto  aos  valores envolvidos  no  Oi!  e  nestes  skinheads,  que para  além  de  toda  a  cultura  de  briga  e virilidade  masculina  que  frequentemente  destruía  as  gigs  e  eventos,  tinham  um  forte discurso  de  culto  as  tradições,  machismo  e orgulho à posição de operário, enquanto @s peace-punks  defendiam  a  destruição  das classes, questionando este orgulho de serem explorad@s.  São  exatamente  estes  valores que  vemos  prevalecer  até  os  dias  de  hoje nas  músicas  e  práticas  de  grupos  que  se reivindicam  como  Oi!,  e  que  para  nós  nada tem  a  ver  com  o  punk  enquanto  expressão contra-cultural.

 


   





2 bandas da finlândia uma dos 90's e outra dos 80's, pra quem diz que na europa é diferente



O Oi!, inicialmente apenas uma gíria cockney com  significado  de  saudação,  foi  o  nome dado pelo jornalista Gary Bushell, a partir de uma  música  da  banda  Cockney  Rejects. Bushell  odiava  a  cena  Peace-punk  que  se desenvolvia  na  época  em  torno  de perspectivas  anarquistas,  igualdade  entre gêneros,  anti-racismo  e  intenso questionamento  político  e  social.  @s chamava  pejorativamente  de  “hippies anarquistas”,  e  utilizava-se  da  revista “Sounds”  para  atacar  constantemente  as atividades  do  Crass  e  da  Dial  House, comunidade  onde  viviam.  No  entanto,
algumas  “ofertas”  vieram  da  cena  Oi!,  que não  tiveram  sucesso:  Jimmy  Pursey,  da Sham 69, tentou formalizar um contrato com a  banda  Crass,  informando  que  poderia incluí-los  no  “Pacote  de  Pursey”  e  fazer  o “marketing da revolução”, dizendo que nunca conseguiriam  sem  ele.  A  proposta  foi negada,  mas  esse  fato  denuncia  ainda  a
forma  como  os  “expoentes”  da  cena  Oi! tratavam tudo isso.





Foi  através  da  mesma  revista  Sounds,  em 1980, que Bushell deu nome ao que seria o Oi!.  Ali  escreveu  uma  série  de  conceitos sobre  um  “novo”  punk,  e  apontava  várias bandas  como  representantes  desse  “novo espírito”.  Também  lançou  diversas coletâneas Oi! dos anos 80, com bandas queno  geral  falavam  sobre violência para passar
o  dia,  esmagar  nariz  de  hippies,hooliganismo,  culto  aos  músculos  e  orgulho operário,  como  a  Last  Resort,  que  em  uma de  suas  músicas  fala:  "Eu  estava  andando pelas  ruas  com  meus  amigos,  procurando um pouco de violência para passar o tempo,nós  encontramos  esse  hippie  idiota  e  ele tentou  fugir,  mas  eu  o  soquei  no  nariz  só para passar o dia..." Falando  sobre  o  Oi!  na  revista  Sounds, Bushell define:
"A mentalidade é essencialmente masculina, apesar  de  algumas  garotas  estarem envolvidas.  É  basicamente  o  que  John McVicar chamou de machismo...O machismo definido  corretamente  é  algo  sobre  honra, lealdade, força e resistência...O tipo de idéia que  me  atinge  como  um  ideal  muito  mais preferível  ao  bunda-mole  introspectivo
defendido pelos hippies" Outra citação sobre o Oi! é também bastante esclarecedora sobre qual sua mentalidade:
“Oi!  é  rock´n´roll,  cerveja,  sexo,  frequentar  gigs,  tirar  um  sarro,  puxar  briga.  É  a  nossa vida,  nosso  show,  nosso  mundo,  nossa filosofia”. (Garry Johnson, poeta e Oi!)





Com  o passar  do tempo as  gigs de bandas Oi!  foram  se  tornando  com  cada  vez  mais frequência  palco  para  as  brigas  e demonstrações  de  força  protagonizadas pelos  skinheads,  tornando  a  existência  de muitas  delas  quase  insustentável.  O skinhead  George  Marshall  relata  este
momento,  em  situações  onde  podemos  perceber  que  o  punk  também  vai  se tornando  alvo  da  violência  intolerante  dos  skinheads, e que podem ser encontradas em inúmeros outros relatos: “Na hora de acusar,
todos  os  dedos  apontavam  na  direção  do skinhead,  não  sem  motivo.  Em  se  tratando de violência nas gigs de punks, eram sempre os  skins  que  começavam  a  treta,  e,  se  não começavam, acabavam. Isso não quer dizer
que  todos  os  skins  estivessem  a  fim  de detonar  a  música  pela  qual  haviam  pago ingresso  para  curtir,  mas  era  um  problema crônico  que  se  tornava  insustentável.  Sempre  havia  um  suposto  skin  partindo  pra ignorância se o vizinho não tivesse o mesmo coturno,  suspensório,  cor  ou  distintivo  na roupa. De repente, virou passatempo praticar a  malhação  do  punk  (...)”  “Um  ou  outro quebra  pau  poderia  ter  sido  controlado  ou contornado. Mas a violência orquestrada em nome da política era algo bem mais sério. A questão  é  que  grande  parte  dos  skinheads
que  curtiam  o  som  da  Sham  e  de  outras bandas  Oi!  apoiava  o  National  Front  e  o British  Movement,  duas  organizações  de extrema-direita  cuja  militância    tinha crescido bastante àquela época.”Em  um  artigo  sobre  a  relação  entre  a  cena skinhead  e  a  música  de  caráter  nazista,  o historiador  Thimothy  Brown  fala  sobre  as
relações que o surgimento do Oi! possibilitou dentro  da  cena  skinhead  para  o  surgimento de  um  estilo  musical  de  extrema  direita, citando  alguns  acontecimentos  relevantes para entendermos este momento:“Um  evento  chave  para  estabelecer  a notoriedade  da  cena  skinhead,  e  que representou  a  articulação  simbólica  entre  o
gênero  musical  e  subcultura,  violência  e racismo,  é  a  tão  falada  “Southhall  riot”,  de julho de 1981. A revolta aconteceu em uma gig  na  Hambrough  Tavern,  na predominantemente  asiática  Southhall, subúrbio  oeste  de  Londres.  Southall  era  a principal  área  de  imigração  asiática  e também  um  forte  alvo  das  provocações  da
National  Front.  Southall  havia  sido anteriormente (abril de 1979) palco para dias de  confrontos  entre  a  polícia  e  a  juventude asiática  após  o  ativista  anti-racista  Blair Peach  ter  sido  assassinado  durante  uma manifestação  contra  uma  marcha  da National  Front.  O  alegado  fracasso  das autoridades  para  investigar  adequadamente o  assassinato  de  Peach  deixou  um  legado de  indignação  que  foi  exacerbado  pelos
frequentes  incidentes  de  “Paki-bashing.”




Com  apresentações  de  três  conhecidas bandas Oi!, The Business, The Last Resort e The  4  Skins,  a  gig  foi  vista  como  a  gota d´água  pelos  jovens  asiáticos  locais,  que acabaram com a apresentação queimando o lugar. 
Um  grande  número  de  skinheads  foi preso  na  confusão  que  se  seguiu,  e  a imprensa  se  mexeu  rapidamente  para estigmatizar  toda  a  cena  skinhead  como baluarte  da  extrema  direita,  apesar  do  fato da  National  Front  não  ter  nenhum envolvimento direto com a gig. O “pânico moral” resultante foi impulsionado pelo receio público sobre o segundo de dois álbuns  de  coletânea  Oi!  lançados  pela revista  Sounds  sob  o  estímulo  do  jornalista Gary  Bushell.  O  primeiro,  Oi!  The  Album, ajudou  a  lançar  o  movimento  Oi!  em novembro  de  1980.  O  segundo  álbum, lançado  apenas  alguns meses  depois  da revolta  de  Southhall, tinha  como  título  o trocadilho  infeliz Strength  Through  Oi! (uma brincadeira com o nome  da  organização da  era-Nazi  “Strength Through Joy”).  O álbum também  destaca  em sua  capa  uma fotografia  de  Nicky Crane,  um  conhecido skinhead  que  também foi  organizador  do
British  Movement  em Kent.  O  álbum  não  foi financiado  pela extrema direita, nem as bandas  ali representadas  eram necessariamente  de direita,  mas  as  conotações  direitistas  do título  e  arte  da  capa,  levadas  em  conjunto
com  a  violência  em  Southhall  e  os resultantes acusações de fascismo skinhead na  imprensa,  solidificaram  a  reputação  de direita da cena skinhead e da música Oi!. Ao  prever,  pela  primeira  vez,  um  foco musical para o  skinhead que era “branco”  –isto é, não tinha nada a ver com a presença de  imigração  caribenha  e  mínima  conexão com  as  raízes  musicais  negras    o  Oi! concedeu  um  foco  musical  para  novas visões  da  identidade  skinhead.  (...)  Conferindo  uma  expressão  musical  à identidade skinhead que era exclusivamente branca  (e,  diferente  do  punk  e  ska,  quase exclusivamente  masculina),  e  em  primeiro plano a violência como pilar do estilo de vida operário,  o  Oi!  concedeu  um  ponto  de entrada  para  uma  nova  marca  do  rock  de extrema-direita. Conforme  o  Oi!  passa  a  ser  associado  com “música  branca”,  a  relação  entre  causa  e efeito  foi  revertida:  para  além  de  skinheads adotarem  as  crenças  direitistas  e  expressálas  nas  músicas,  músicos  com  crenças direitistas  começaram  a adotar a cena skinhead –branca,  masculina, violenta  e  patriota  –como  campo  para  se expressarem.  Estes músicos  trouxeram novas  influências musicais  ao  Oi!,  criando uma  forma  híbrida  de “skinhead  rock”  que
mantém sua filiação com a  cena  muito  depois  de ter  deixado  qualquer semelhança  com  o  som “street  punk”  do  qual  o Oi! se desenvolveu.” Se,  por  um  lado,  parte dos  integrantes  destas bandas  tentaram  a  todo  custo  não  serem colocadas  como  fascistas,  seja  buscando participar de eventos contra o racismo ou por meio  de  artigos  de  Bushell  na  revista Sounds,  fato  é  que  esta  associação  foi  se tornando  cada  vez  mais  forte,  sobretudo pelas  práticas  e  valores  envolvidos  nesta cena.  Embora  na  maior  parte  das  vezes  o argumento  seja de  que tudo isto foi apenas uma deturpação da mídia,  há diversos fatos que  estão  aí,  contados  pelas  próprias pessoas que viveram a época, e que trazem mais uma vez a tona valores conservadores que  não  compartilhamos  de  forma  alguma.


Banda anarchxpunx da alemanhã anti oi

letra:
" (...)Foda-se! Foda-se! Foda-se! Foda-se! Foda-se a união! (...)"
" (...) (Seu) o patriotismo é apenas lixo orgulhoso de tudo, eu não me importo! 
Que tal uma opinião própria ou será que vocês não se atrevem? (...) "
" (...) Eu não quero festa com você, sua estupidez, eu estou de saco cheio! "