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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Entrevista: Ieri (Bulimia, Las Otras) - blog Feminismo Ráiot

Obviamente que isso estava relacionado com o que era o punk pra mim, algo necessariamente contestador.

O que eu tinha claro é que não queria nem cantar como um anjo; nem forçar a barra e imitar os berros dos caras.
Eu também queria incomodar, em todos os sentidos, tirar as pessoas da sua zona de conforto, musical inclusive.
Naquela época isso era importante para mim.
Que outras meninas escutassem aquilo e pensassem que também podiam montar uma banda, apesar de qualquer coisa que parecesse um impecilho.

...a simplicidade e a honestidade que me interessam no punk, não o virtuosismo musical.

Queria falar do sexismo e da misoginia dentro da cena punk, que era nosso mundo.
E não tinha nenhum interesse em falar sobre isso desde a perspectiva dos caras, eu queria abrir uma comunicação direta com as meninas!
Não me interessava pedir pros carinhas que deixassem de ser machistas, eu queria que as minas não o fossem!
Que elas entendessem que o lugar que estava reservado para elas na sociedade não era a único para se estar!
Que ser mulher era ser qualquer coisa que elas quisessem ser.

Esta sociedade tenta roubar tudo da gente, numa despersonificação constante.
E os códigos de como agir, vestir, falar também estão dentro desses espaços que supostamente deveriam ser críticos e auto-críticos.

Para mim o punk não é subcultura, é contra-cultura. É uma maneira de ser e fazer distinta da norma, uma agressão ao pré-estabelecido que não nos serve.

Já tem algum tempo que o punk deixou de ser uma ameaça.
As pessoas deixaram de questionar, criticar sobre o que estamos fazendo com nossas vidas e o planeta.
É mais importante usar o tempo para estudar historia de bandas, discos e punk em geral; vestir-se de maneira apropriada;
consumir e parecer punk, que realmente afrontar esta sociedade doente e podre.

Las Otras temos uma maneira de fazer as coisas totalmente faça-você-mesma, queremos comunicar idéias, questionar, mas ainda assim, somos somente uma banda punk.
As revoluções não vão acontecer só porque cantamos sobre elas.

Hoje não me interessa “rebaixar” o discurso para atingir o maior numero de garotas.
Me preocupam outras coisas, penso de maneira muito diferente sobre alguns temas e quero falar sobre isso.
Acho super importante continuar sendo críticas, inclusive com nossas idéias antigas.
Existem muitos tipo de opressão, não queremos ser cúmplices silenciosas, preferimos ser traidoras ativas.

...o anarquismo algo próximo e cotidiano, do aqui e agora, mais do que quando a revolução chegar. A contra-cultura à frente da subcultura.

As política anarquista, as letras simples e diretas, o som tosco, as atitudes dos integrantes no dia a dia, a maneira como faziam as coisas.
Sincero e humilde. Isto é o punk.

Entrevista: Ieri (Bulimia, Las Otras)